DOIS FILMES QUE ESTÃO CHEGANDO AÍ PARA QUALQUER APAIXONADO POR PSICOLOGIA AMAR | ENTENDA AS METÁFORAS

quarta-feira, outubro 02, 2019


Nesta quinta-feira (03/10), dois filmes estão chegando aos cinemas do país carregados de minúcias metafóricas e com discussões que seria difícil qualquer apaixonado por psicologia não amar. Coringa e Encontros são filmes com mensagens e perspectivas totalmente distintas, além de pesos que deixam os corações saindo das salas de cinema de formas ainda mais diferentes. Eles se encontram, porém, nas entrelinhas em que se utiliza a mente humana como cerne para debater temáticas extremamente atuais.

Fui conferir ambos os filmes na cabine de imprensa com antecedência e já tinha feito a crítica de Joker lá no IGTV (no Instagram) – onde tenho postado as análises sem spoilers de filmes e séries com mais frequência. Resolvi fazer a união de acréscimos da crítica de Coringa com toda uma análise de Encontros aqui, em uma mesma postagem, já que as tramas ganham suas estreias no mesmo dia e trazem tais linhas próprias tão emaranhadas.

Deixo o lembrete de que no canal de YouTube continuaremos com críticas maiores e com listas de indicados, como o Assistidos do Mês. Mas, independente dos cantos onde estão sendo feitas as análises, fato é que continuamos a mergulhar no que poucos podem ter percebido ou compreendido de fato. Então, peguemos as nossas lupas:

CORINGA | sem spoilers

O icónico personagem do universo do Batman (da DC Comics) ganha uma obra pesada, profunda, atual e metafórica para tratar de críticas políticas e sociais complexas que são bem destrinchadas em analogias imagéticas e faladas.

No filme, o comediante falido Arthur Fleck tenta lidar com suas problemáticas mentais e acaba sendo cada vez mais desconsiderado pela sociedade enquanto o seu maior desejo é ter voz. Cada vez com mais problemas financeiros e psicológicos, o cidadão de um local em crise em pleno 1981 encontra violentos bandidos pelas ruas e casos sobre falta de empatia no seu cotidiano.

Aos poucos, Fleck se torna a representação de uma consequência social, sendo adorado por muitos como o Coringa, independente das mortes que acabe por causar. De tal forma, críticas aos líderes que de alguma maneira incitam a violência também passam a surgir no longa, que vai mostrar como, no fim, tais ações apoiadas só geram mais possibilidade de caos.

Confira a crítica completa dando play abaixo (com mais detalhes sobre as metáforas da obra):


ACRÉSCIMOS: O filme, que brinca com metáforas imagéticas para além das cores, traz a sujeira na tela a todos os instantes. A cidade podre, repleta de lixos jogados pelas ruas, se mistura ao que é dito ao fundo pelos telejornais da trama. Toda a confusão do local, que é gerada pela falta de emprego e pela desigualdade de classes sociais, acaba servindo como mais uma analogia para tratar de como a falta de empatia e equilíbrio sempre afeta a vida de todos de alguma forma, ainda que alguém se sinta 'intocável' o bastante para não ser atingido.

Para aqueles que não assistiram nenhum filme anterior do Batman ou que nunca mergulharam muito bem nas tramas sobre o personagem, é possível assistir Coringa (Joker) sem receio de não compreender. Com camadas profundas da psicologia, o filme foca em toda a vida do personagem que ali está retratado, sem precisar que nada além do que está sendo ali exibido seja realmente visto como fundamental.

A obra, porém, fica ainda mais deleitosa e com boas surpresas (que geram ainda mais impactos para as críticas), para quem procurar saber o mínimo sobre a base da história do Homem-Morcego. Basta, no entanto, estar atento(a) ao mundo contemporâneo para entender as mensagens passadas nas entrelinhas do novo longa.

O filme brinca com a pergunta: "E quando você percebe que a piada é você?", dando mais sentido ao nome Joker e mostrando que todos somos palhaços se não se nos importamos o bastante com o outro para que ninguém precise chegar ao ponto em que o próprio Coringa chega.

O diretor Todd Phillips, que vem de uma lista de filmes de comédia, vide Se Beber, Não Case, agora utiliza os tons cômicos apenas para fazer mais simbologias e tratar das tragédias que a sociedade vem carregando, como faz muito bem ao utilizar as risadas do Coringa como mais uma metáfora (explicada no vídeo acima).

As risadas chegam a representar, para além do que foi dito na crítica em vídeo, também a noção de que vivemos (como sociedade) a rir de muitos dos problemas ao invés de enfrentá-los e tratar com a seriedade devida: ficamos 'rindo do que não tem motivo nenhum para ter graça' (como o personagem apresenta em tantas cenas). Acabamos nós, então, sendo os palhaços (por culpas próprias).

Muitos estavam aguardando as comparações entre o Coringa de Phoenix e o icônico de Heath Ledger (no filme Cavaleiro das Trevas, de 2008). A questão é que um acaba complementando o outro
, já que o de Phoenix apresenta toda a transformação e uma ponta do que o de Ledger acaba por ser. Ambos mostram, com excelentes atuações, etapas de vida e maturidades bastante diferentes dos personagens: não sendo assim sequer justa uma comparação de fato. É como se um tivesse feito o depois e o outro o antes daquela história, sem precisar

O Coringa atual é um filme para sentir incômodos que se misturam com a emoção de querer ver cada vez mais, porque são revoltas que nos conectam como sociedade e seres humanos. É impossível não se colocar no lugar do protagonista em diversos momentos, assim como é preciso tomar cuidado até que o ponto em que essa simpatia pode ir.

É interessante de observar como certas cenas vão mergulhar até em lições sobre empreendedorismo, ainda que o cuidado para não romantizar as ações do protagonista precisem ocorrer. É possível observar, por exemplo, o protagonista estudando (pela televisão) ações de outras pessoas para imitá-las em um determinado momento. Na hora da imitação, porém, ele mistura tais ações com trejeitos próprios, exibindo mensagens como:

"Não é enxergando o que todo mundo vê que fará o diferencial, mas sim entendendo ângulos que ninguém pensou sobre aquilo que todo mundo viu."
(@vanessabrunt)

Apesar dos poucos pontos negativos (citados no vídeo acima), Coringa consegue driblar até a falta de ação que se espera de forma maior no final, enquanto se aproxima de um terror psicológico, principalmente por tocar tão bem nos verdadeiros chãos nos quais pisamos.

NOTA: 9.8 [DE 10]

ENCONTROS | sem spoilers

"É preciso aprender a se amar sozinho(a) para então realmente poder amar alguém de forma saudável". A premissa, tão espalhada atualmente pelas redes sociais, é uma das bases do filme Encontros (Deux moi, no original), longa francês que apresenta Rémi (François Civil) e Mélanie (Ana Girardot), vizinhos que não sabem que são vizinhos.

Os protagonistas têm em torno de 30 anos e, apesar de morarem em prédios um ao lado do outro, não se conhecem. Ambos enfrentam problemas pessoais: ele, devido à demissão de praticamente todos de seu antigo trabalho enquanto foi recolocado em outro setor, e ela sem conseguir superar o término de um longo relacionamento, cujo fim já tem um ano.

Cada um à sua maneira, os dois buscam meios de lidar com o momento de barreiras emocionais através das redes sociais, com utilização do Facebook e Tinder, por exemplo. A diferença real se dá, porém, quando os dois buscam ajuda psicológica, fazendo terapia para buscar meios de lidar com as fases complexas.


A primeira mensagem metafórica do filme já surge desde a premissa. A obra vai criticar a falta de atenção dada ao outro tanto quanto a nós mesmos. Se tentássemos olhar mais ao redor e nos disponibilizássemos para ser mais empáticos e prestativos, soluções pessoais também apareceriam com mais facilidade. Afinal, nos conhecemos sozinhos, mas para nos conhecermos sozinhos, precisamos nos relacionar com a solidão do semelhante.

"Solidão. Só-lidão. É o momento que não existe por acaso. É feito para ler com atenção o que, quando não só, fazia descaso." 
(Frase do livro Depois Daquilo)

Enquanto critica, de tal maneiras, as formas rasas com que se dão os relacionamentos atuais, o filme pretende mostrar o quanto, por vezes, estamos cada vez mais abertos para o universo digital e nos fechando para 'o que está na nossa cara' no mundo presencial. Ainda assim, mais uma frase faz jus às mensagens da obra, que também passeia pela ideia de que nem tudo, mesmo visível, vai chegar na nossa vida enquanto não soubermos puxar aquilo para perto:

"Algumas coisas não tocaram no seu caminho ainda porque estão esperando você se tocar quando elas encostarem."
(@vanessabrunt)

Com subtramas que abordam a importância de discutir o luto e passar por ele sem tentar sufocá-lo com sorrisos falseados, o filme é sobre autoconhecimento e surpreende por não focar no romance, mas sim em reestruturar toda a fórmula clichê que pode ser pensada previamente pelo espectador. O foco fica para as histórias dos personagens e suas camadas profundas, complexas e reflexivas.

Outra metáfora fica para um fator interessante que destrincha noções sobre o que seria um relacionamento saudável. Cada um dos personagens tem problemas que se apresentam quase como opostos. Um não consegue dormir, o outro dorme demais. Um não busca fervorosamente um amor romântico, o outro pensa nisso quase o dia inteiro. Um não sabe falar sobre quem é (e passa a tentar descobrir), o outro se baseia em quem é a partir dos próprios traumas (e percebe que não é isso o que lhe define, mas sim aquilo que ama ou não mais permitirá).

Mas o que os conecta esses personagens são os valores de vida: foco nos objetivos do trabalho e comprometimento quando dão a palavra sobre algo, por exemplo. Um gatinho que surge no filme aparece justamente para fortalecer tal ideal. Quando decidem cuidar de algo, abraçam com toda a força possível. E, mesmo sem que os personagens se encontrem, o filme já vai falando, assim, sobre o que é realmente necessário para um relacionamento saudável acontecer: o que é necessário são os limites combinados, a honestidade entre ambos e os valores de vida pessoais se unindo e impulsionando em meios ao comprometimento.

Encontros não é um romance e muito menos uma trama água com açúcar, mas chega a ter respiros gostosos que geram um riso solto aqui e ali enquanto criam boas reflexões. É uma trama para quem curte focar nos diálogos e no universo psicológico, analisando as camadas dos protagonistas e não somente aguardando por alguma cena mais óbvia que pode ou não surgir.

É uma obra sobre rever prioridades, entender os cernes dos problemas e apreciar a possibilidade de se viver grandiosamente com o que já tem. Os atores, inclusive, mostram que a mulher que pouco fala pode ser a mais tagarela e que o homem de vários amigos pode ser o que menos sabe sobre si. São em representações assim que o longa se fortalece, com boasatuações que vão crescendo à medida em que conhecemos mais a fundo os personagens (assim como acontece na vida).

PONTOS NEGATIVOS: O que traz quedas para o filme, porém, é a falta de dinamismo e de novas barreiras a serem quebradas pelos personagens. Repetindo os mesmos problemas enquanto mergulha neles, a obra parece esquecer que até a vida real não para nas únicas e mesmas questões, ainda que elas possam prosseguir repetidas por toda uma vida.

O ritmo bem calmo, diferente do que ocorre no filme Coringa, chega a dar sono em determinados momentos, justamente pela falta de curiosidade que a obra passa a instigar, já que o espectador passou a compreender as causas e, então, para além das profundezas, quer saber mais sobre as consequências.

Se todo encontro é algum tipo de desencontro e todo desencontro é algum tipo de encontro (afinal o título do filme seria (Des)encontros), falta, ainda, a trama brincar com o que defende e com a lógica romântica que poderia dar aos dois novas formas de entender até as próprias questões outras, ainda que o filme não foque no tal romance. A dinâmica engessada entre os personagens e entre sua possível proximidade, portanto, engole o charme da trama, que esquece de criar mais linhas além de apenas escrever mais sobre as mesmas.

NOTA: 6.8 [DE 10]

E você: o que achou das tramas? Já foi conferir alguma delas na pré-estreia ou na estreia antes de ler as críticas por aqui? O que achou das entrelinhas? Como se sentiu? Não deixe de conversar comigo por aqui ou lá no Instagram.

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14 COMENTÁRIOS

  1. estou louca para assistir coringa.
    já perdi as contas de quantas vezes já assisti o trailer.
    bjss
    www.andressamonteiro.com

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  2. Muito bem construídas as duas resenhas. Fiquei curioso para ver Coringa.
    Bom restante de semana!

    Até mais, Emerson Garcia

    Jovem Jornalista
    Fanpage
    Instagram

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  3. Quero muito assistir Coringa, parece ser um filme bem profundo.
    Beijos

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  4. Não vi nenhum dos dois, o Coringa eu já conhecia, mas esse outro francês nunca tinha ouvido falar. Interresante como sua resenha ficou muito mais profunda, vendo ambos os filmes com uma reflexão mais aprofundada. Já quero ver!
    :)

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  5. Quero assistir os dois, ainda bem que você não contou spoilers
    Beijos ♡ Blog | Instagram | Youtube

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  6. Parte do meu trabalho é pesquisar e escrever sobre psicologia (mais especificamente, finanças comportamentais), então já fiquei super empolgada só de ler o título.

    Adoro tanto as suas análises de filmes, porque são gostosas e profundas de ler. Mesmo que não assista, já fico envolvida. Você arrasa <3

    Sabrina Santiago | www.mocadecasa.com

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  7. Eu não sabia muito sobre esse filme Encontros porém Coringa eu tenho estado doida para assistir. Já imaginava que ele fosse trazer muitas mensagens escondidas ali para levar o espectador a pensar. Acho que o personagem por si só já faz isso. Estou bem curiosa para assistir e tirar as minhas próprias conclusões. Gosto muito de filmes que tem esse apelo para o lado psicológico mais forte.

    Abraço,
    Parágrafo Cult

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  8. This looks so cool! Nice Post! Have a great day!
    Allurerage
    Rampdiary

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  9. Amei esse filme "Encontros", esse eu quero assistir já o primeiro eu nunca tive interesse por esse personagem. Gostei de saber mais como analisar os filmes pensando na psicologia abordada.
    Beijocas.

    https://www.parafraseandocomvanessa.com.br/

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  10. Eu ainda não decidi se eu quero ver Coringa, achei o tema do filme muito forte para minha cabecinha sabe? Pode ser que tenha temas que gerem um gatinho no meu transtorno de ansiedade então ainda não decidi, de qualquer forma, eu adorei seu resenha de ambos os filmes ♥

    Um beijo,
    Quase Mineira

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  11. Coringa tá na minha list de obrigatoriedades de 2019 jajaja

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  12. Eu estou ansiosa para ver o filme do Coringa Va, todo mundo que vê fala que é muito bom, mas ao mesmo tempo bem pesado psicologicamente. Gostei da sua critica a respeito dele ^^

    bjs

    Ariadne ♥
    De volta ao retrô | Instagram

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  13. to doida pra assistir Coringa, ta mesmo td mundo falando super bem. Encontros ainda nao tinha ouvido falar, mas tbm fiquei bem curiosa pra ver

    www.tofucolorido.com.br
    www.facebook.com/blogtofucolorido

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  14. O primeiro não faz muito o meu género, já o segundo é muito do que gosto de assistir mas não conhecia.

    MRS. MARGOT

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