AS METÁFORAS EM “WILDEST DREAMS”, DA TAYLOR SWIFT

quarta-feira, setembro 30, 2015



Não é segredo o quanto admiro a Taylor Swift. Sou encantada pelo seu talento como compositora (letrista) acima de tudo, além de contemplar todos os seus demais dons, inclusos no tremendo pacote de feitos da sua caminhada artística.

A Taylor põe o "dedo dela", ou melhor, "o corpo inteiro", em tudo o que faz. Não são só nas melodias e em cada vírgula das suas canções que ela sobrepõe o coração, administrando sentimentos e simbologias simultaneamente. As escolhas de cada detalhe dos seus shows (cenários, coreografias, figurinos, iluminação, e por aí vai), assim como de cada clipe e apresentação, são feitas com a voz da Swift ecoando em tons metafóricos. Ela faz questão de selecionar cada detalhe, dando ainda mais sentido as profundidades dos seus versos (muitas vezes não reconhecidas por uma massa de público que tende a observar o literal, como meio, inclusive, para criticar negativamente sem uma construção de base investigativa e/ou com análise das cernes).

O último clipe lançado pela cantora (feito para o single Wildest Dreams) causou uma mistura de lágrimas, fascínio e aflição positiva no meu coração já apertado pelas intensas mensagens da música. O vídeo é repleto de analogias, impostas de forma tão detalhista que pode chegar a parecer, para alguns, um trabalho extremamente objetivo e restrito ao visível. Irei explicar, portanto, algumas das principais metáforas encontradas por mim no clipe, tendo como base, obviamente, as informações transpostas nas estrofes e na sonância desse quinto single do álbum "1989".


As mensagens principais da letra da música:

Independente das crenças, da fé na reencarnação ou dos ceticismos, o fato perdurante e imutável é que esta vida é uma só, e temos, desta maneira, apenas esta chance de ser, através dela, quem somos. Esta afirmação percorre em toda a ideologia da letra de Wildest Dreams, que ratifica a finitude de tudo o que alcançamos (sendo algo que dure a vida inteira ou algo efêmero), menos das marcas que podemos deixar em (e para) outras pessoas. Essas sim, sobrevivem além do que o tempo e a mortalidade podem definir. A forma de evoluir enquanto ajuda outro alguém a aprender, enquanto marca uma vida, é o foco das mensagens da composição.

Nos seus versos, Taylor Swift aborda a tese de que o que mais podemos (e devemos) querer fazer, dentre tantas as incertezas de durações da vida, é deixar pontos inesquecíveis para a caminhada de quem passa em nossas ruas. São momentos, (são) como filmes, que nos tornam quem somos, e que enriquecem quem outros tantos serão após nos encontrarem nestas curvas. Esses filmes podem ser assistidos quantas vezes quem participou deles desejar. Como você quer ser lembrado por quem der o replay em uma história na qual você atuou? Eis a indagação que a cantora deixa em nossas mãos e mentes.

Ser bom, tendo caráter, tendo lealdade, é o que realmente causa marcas mais fincadas, é o que faz com que seja ainda mais inesquecível, porque os ruins causam amadurecimento, mas não uma saudade que deixe a razão fazer a mente querer voltar. Isso tudo é cabível para qualquer tipo de relacionamento, seja uma amizade, uma questão familiar ou um romance. Na letra, Taylor fala de uma pessoa que engana, que é "de momentos", e tudo o que ela deseja, portanto, é marcar a vida dele com situações densas, incluindo as belas e as tempestades, sendo a pessoa honesta e digna que ela pretende durante todos os capítulos por eles vividos. São essas possíveis marcas, essa troca de aprendizagens, que para ela, fazem valer a história. Mas ele, sendo como é, marcaria de forma enraizada a vida dela? Bom, isso é assunto para a análise do clipe (abaixo).

O incrível é que essas teses são, claramente, as mesmas que defendo (não tão incrível assim, porque é algo básico para sondar. Porém, a forma explicativa com que desenvolvo, é de tamanha semelhança). E já havia, há um tempo, em uma entrevista, enviado uma mensagem para vocês falando, basicamente, sobre esse aspecto. Você pode ler essa minha resposta clicando aqui.

Curiosidade: Na melodia, temos o suspiro que a Taylor faz de refrão em refrão, que pode ser analisado como aquele que damos ao lembrar de algo que causa uma intensa nostalgia, porque marcou, de fato, a nossa vida (e porque dá uma paz de lembrar, assim como tudo dá em algum momento, seja por um "ainda bem que acabou e que aprendi tanto" ou por um "queria mais dessa história, mas pelo menos aprendi tanto"). Além dele (e é aí que vem a curiosidade), também aparecem as batidas presentes "no fundo" de quase toda a música. Essas batidas, segundo algumas fontes (como a equipe do Taylor Swift Brasil) são os pulsares do coração da própria Swift, que teria gravado tais palpitações e ajustado para a produção do ritmo de Wildest Dreams.


As metáforas do clipe:

Para entender as metáforas de um clipe, é claramente obrigatório captar as ideologias contidas na letra da música. Muito do que é representado em imagens, são apenas os pontos subjacentes na poesia da composição. E é com esse sensacional enlace, que vamos de parte em parte, analisar algumas das belezas intrínsecas de Wildest Dreams.

1- O filme

É óbvio no clipe, o fato de que a Taylor está gravando um filme, em uma época antiga, com o seu par romântico. Mas e se olharmos mais afundo? O que isso pode estar desejando transmitir? As afirmações implícitas pela Swift na letra da música já trazem toda a explicação contextual: O filme representa a aglomeração dos momentos marcantes que vivemos com alguém, momentos que podem ser "revisitados" e que para cada um, terão seus fragmentos mais significativos. Se para cada pessoa, o filme vai ser visto nos ângulos que para ela foram mais definitivos, qual a melhor opção se não a de ser leal em todos eles? Assim ser lembrado como alguém que vale a pena, será muito mais simples.

O filme não se passa em uma época antiga à toa. Ao meu ver, esse fato é para reforçar a ideia de que aquela história pode ser do passado, mas o vídeo feito sempre prosseguirá gravado, para ser assistido por décadas a mais (nas mentes de quem o presenciou). Ainda que procuremos seguir em frente, as lembranças que acentuam uma fase nos perseguem, seja de forma nítida ou em relances de recortes das cenas.

2- Olhar o pôr do sol (como algo positivo)

Tanto na letra, como no clipe, vemos a Taylor ratificando o desejo de que ele (quem está vivendo aquela história com ela) lembre deles olhando o pôr do sol. O sol indo embora é sinônimo do início da escuridão, do início do fim, ainda que seja belo de ser observado. Isso pode remeter a ideia do anseio que ela tem de almejar transmitir sempre uma sensação nostálgica e com segmentos inesquecíveis de serenidade para quem passa pela vida dela. Ou seja, ainda que ele lembre de algum fim dentro do relacionamento, ou do fim definitivo, serão vistos pedaços de paz, de "ela-vale-a-pena", inclusos mesmo que nessas horas fúnebres.

3- A cachoeira


A cachoeira não é filmada mais de uma vez e com grande enfoque sem motivo algum, ela representa a vida e seus momentos intensos, que sempre tem fim, e marcam. Logo, a parte da água caindo faz analogia ao que "vem com força", ao que "vem para deixar rastros e carimbos" na nossa vida, e o final da cachoeira, é a calma, é a aceitação de algum fim, é o momento em que a intensidade acaba, mas prossegue ali, parada nas memórias, sublinhando detalhes.

4- Os panos e o pássaro quase todo claro

Em vários instantes vemos a compositora segurando panos que "flutuam" no ar. Tal fator é relacionado a nítida vontade dela de ser alguém que transmitirá coisas boas, frutos de evoluções, sem a necessidade de ser algo negativo para que possa causar maturidade em quem passar no seu caminho. A leveza, o não-quero-ser-alguém-que-pese-negativamente-para-ser-lembrada, é o principal quesito contido nessas cenas. Assim como quando vemos um pássaro quase-todo-branco. Mas por que ele não era logo todo branco então? Aí é que partimos para o próximo tópico.

5- A chuva e os raios

Quando tudo começa a ser "rebobinado" em um momento de clímax da música, podemos observar que apesar dos momentos positivos e belos, há também a tempestade. Obviamente, nem mesmo quando seguimos os limites dos nossos princípios, acertamos com totalidade. Falhas ocorrem, escuridões acontecem. E contanto que esses momentos de breu não se sobressaiam aos pontos de claridade (ou seja, contanto que seu lado bom não seja amassado por algo capaz de pisar em cima dos seus valores), estará ainda valendo toda a teoria. Eles se beijam na chuva (nas lembranças que o perseguirão), o bom continua vivo até quando nas lembranças ruins, porque esse lado zeloso dela, permanece sendo sempre o de maior força, o de feitos mais altos. Lembrando que, no caso, isso será o passado na mente dele (ela, de tal forma, será lembrada por ele).

Lembra do pássaro? Ainda que branco, as partes escuras sempre estarão ali (simbolizando a nossa cegueira em alguns momentos, os perigos de não levar as lanternas nos bolsos...), como os raios na chuva, como a chuva em "boas horas", etc. Mas ele é muito mais branco do que preto, certo? É muito mais claridade do que neblina. É o mais importante para o equilíbrio de todas as coisas.

6- Avião sobrevoando animais que estão correndo


O avião, como o tempo passando, que sobrevoa sempre, em tudo e por tudo, representa também a mente de ambos dentro desse tempo que não deixa de correr. Os animais, obviamente, denotam o nosso instinto animal, de correr, de voltar a uma origem, de voltar para onde a mente manda, para onde o tempo continua retrocedendo, para as memórias das quais não conseguimos escapar, para onde os aviões pousam novamente, mesmo sem pousar.

7- O leão

O leão, que aparece atrás da Taylor, representa ela mesma como a "memória rainha" que em toda a letra atesta almejar por ser. O leão é o que ruge, é o que prossegue parado ali, durante as gravações (momentos que serão inolvidáveis). Ele é a metáfora da face deseje-fazer-coisas-inesquecíveis-na-vida-de-alguém da cantora.

8- O retrovisor

A última cena dá foco em um objeto muito substancial para a explicação de várias mensagens dos versos. Vamos então recapitular: Durante o relacionamento, durante a criação dos momentos ("gravações do filme"), o par lindo-porém-ruim da letrista "chuta o balde" literalmente, dando alusão à própria expressão. Ele é inconstante e indeciso, claramente alguém que ainda não definiu um caráter próprio (ou seja, sem caráter mesmo). Quando a Taylor pretende assistir ao filme, com expectativa de dar continuidade a toda a história, ele comprova que era apenas algo efêmero na vida dela, que não vale o prosseguimento. Os lados negativos dele, pisam nos bons, fazem os bons serem postos em grandes dúvidas. E ela não insiste no que "não presta", só insiste enquanto sente que "pode prestar", que tem ainda o que de bom extrair e transmitir.

Bom, acontece é que ela marcou a vida dele. Ela, sabendo quem é e como quer conduzir a própria índole, tornou-se inesquecível. Ele atravessa as portas da sala de cinema para ir atrás dela (ou seja, ele vai além das lembranças. Ao re-assistir/relembrar a história dos dois, ele observa que não esquecerá, que quer "continuar o filme"). Mas ela já está indo embora.

Ele não foi bom o suficiente, ele já não tem o que acrescentar na visão dela, e ficou no retrovisor. Logo, por mais que aquelas lembranças continuem para ela, estarão cada vez mais distantes, cada vez mais "esquecíveis", cada vez mais guardadas no subconsciente. O retrovisor não apaga, mas distancia. Ele não será apagado, mas jamais lembrado como ela será por ele. E ele só a verá novamente ao dar o replay e/ou ao imaginá-la nos seus "sonhos mais selvagens".

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Sua vez: Qual a próxima "leitura musical" que você gostaria de ver por aqui? Conhece algum outro clipe com metáforas bem enlaçadas a uma boa letra? Conte nos comentários!

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3 COMENTÁRIOS

  1. Caramba, nunca que eu enxergaria essas coisas! kkkkkkkkkk sensacional

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    Respostas
    1. Oba! Maravilhoso saber que gostou, Gabriela! Tenho certeza que enxergaria diversos pontos aprofundados, assim como deve ter reparado tantos outros. Um super beijo!

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