8 LINKS FAVORITOS DA ÚLTIMA SEMANA E 2 FILMES

domingo, fevereiro 21, 2016


Um dia de atraso para postagem nova (socorro)! Aqui sempre temos postagens todos os dias ou, no mínimo, dia sim e dia não, não é? E de tal forma continuaremos, obviamente. Mas uma vez na vida ocorre alguma desregulação por grandiosos motivos, como foi dessa vez: estava finalizando com a editora os últimos detalhes do próximo livro, que está cada vez mais pertinho de chegar para vocês! Estou perdoada? Para compensar, desta vez não trouxe os links favoritos da semana acompanhados da indicação (e mini resenha) de um filme ou uma série, mas sim de dois filmes! Vamos ter postagem imensa? Depende da concepção, mas são indicações do que mais adorei ver por aí nos últimos dias e não poderia deixar de compartilhar com vocês e, claramente, uma aglomeração dos pontos principais das reflexões que as obras cinematográficas citadas podem nos transmitir (e são obras para refletir constantemente). Para conferir as outras postagens de "links favoritos + um filme ou uma série", basta clicar aqui e descer a página.

1. Tudo (ou quase tudo) de mais importante sobre o Kindle

Embora ele seja bastante popular nos Estados Unidos, o Kindle ainda é uma onda de incógnitas para muita gente aqui no Brasil. Muitas indagações têm sido feitas, como: vale a pena comprar um? Qual é a diferença entre um Kindle e um tablet? O que é um e-reader? E até mesmo: o que é o Kindle? Então esse link (acima) em conjunto comesse outro aqui, esclarece as questões de diversas dessas perguntas. E já emitindo a resposta sobre uma delas (de forma mais simplificada): Kindle é um leitor de livros digitais desenvolvido pela subsidiária da Amazon, a Lab126, que permite aos usuários comprar, baixar, pesquisar e, principalmente, ler livros digitais, jornais, revistas, e outras mídias digitais via rede sem fio. O aparelho, que está em sua quarta geração, tinha começado com apenas um produto e agora possui vários aparelhos — a maioria utilizando de um display para ler papel eletrônico. Atualmente, a "família" Kindle também possui o Kindle Fire, um tablet, que também funciona como leitor de livros digitais, mas com um display colorido.

2. 8 ferramentas que todo empreendedor deve ter no smartphone

Dropbox, Evernote, Whatsapp. Todos somos empreendedores e a maioria de nós já domina o uso desses aplicativos e consegue aproveitar suas funções para melhorar os negócios. Mas além das citadas, existem outras ferramentas que podem ajudar a melhorar o marketing, o relacionamento com a equipe e o networking. Confira uma seleção bem bacana.

3. Canais do Youtube que abordam curiosidades sobre filmes e séries

Pode link daqui do blog? Pode! Essa é uma postagem um pouco mais antiga, mas que continua super válida. Fiz uma reunião de canais muito bacanas, com diversas vertentes (alguns mais críticos e explicativos, por exemplo; alguns que não dão spoilers - para que veja críticas antes de assistir a um filme, por exemplo), sobre obras do cinema e da TV.

4. Leia um livro em inglês por mês no ano de 2016

Uma sequência de indicações de livros muito bacanas que vão desde temáticas sobre empreendedorismo até romance! São livros em inglês (mas que podem ser encontrados, na maioria, também traduzidos), com a proposta de treinar a língua, mas que podem nos dar, acima de tudo, uma carga de excelentes conteúdos propostos.

5. "Perdi peso, ganhei saúde!"

Essa parte do G1, que fica na coluna "Bem-estar", é sensacional para quem está buscando inspirações para perder peso de forma saudável. Obviamente, é necessário que procure o seu nutricionista e que tenha todo o acompanhamento médico preciso, visando, acima de tudo, sempre, a saúde e os limites indicados do seu corpo; mas as histórias podem servir como bons impulsos e podem ajudar para questões e ideias que deseje levar para os médicos.

6. Dicas para criar um currículo sensacional

É óbvio que o principal do seu currículo vai ser a sua criatividade, a forma que considerar mais sagaz para apresentar os seus feitos (e, claramente, as suas conquistas já alcançadas), mas existem conselhos muito bacanas emitidos por profissionais para dar suportes que podem ajudar em nortes para que essas "intuições" surjam com mais facilidade, e essa lista escrita e com até um vídeo de suporte, pode ajudar bastante!

7. Um top 10 de livros sobre fotografia

Gosta de fotografia? Quer aprender truques bacanas? Quer dicas incríveis emitidas por profissionais? Então que tal algumas leituras indicadas por quem já atua na área e muito sobre ela pesquisa? Confira aqui uma lista com diversidades da literatura em âmbitos dentro da temática.

8. Por que não devemos comprar animais?

Você sabia que muitos animais são feitos em laboratórios e que as mães sofrem e são criadas somente para gerar mais filhotes? Você imagina o quanto essa teia capitalista é terrível até quando se trata dessas vidas que tanto deveriam ser cuidadas e amadas? Você sabia que podemos fazer a nossa parte contra esses absurdos? Adote um bichinho, não compre! Esse texto ajuda a dar algumas compreensões sobre o que ocorre nesse tipo de processo que visa o mercado e pode abrir portas para novas pesquisas e abrir de olhos.

Extra: 5 sites gratuitos para aprender novos idiomas — e vários deles podem ser encontrados também como aplicativos.

  • Filme 1: Sociedade dos Poetas Mortos

"Não lemos e escrevemos poesia porque é bonitinho. Lemos e escrevemos poesia porque somos membros da raça humana e a raça humana é repleta de paixão. Sentimos. Refletimos. Medicina, lei, negócios e engenharia são ocupações nobres para manter a vida. Mas poesia, belezas mais internas, romance e amor são razões para ficarmos vivos".Você já deve ter ouvido falar desse filme épico! Mas se ainda não assistiu, a melhor dica que posso dar é: corre e devora! E se assistiu há muitos anos e quase não lembra dos detalhes, das mais aprofundadas mensagens... de qualquer forma, é válido recapitular de novo (e de novo). Fui rever essa obra magnifica esses dias, depois de ter assistido quando era criança, e é esplêndida essa releitura. Com certeza, após rever atualmente, entrou como um super complemento na minha lista de filmes favoritos!

O enredo da trama vai se delinear dentro da Welton Academy, escola preparatória de regime interno para o sexo masculino de classe alta, que adota uma concepção didática racionalizada com prospecção totalmente focalizada na formação superior e não na formação de vida (parece algo que já conhecemos, não é?). No início do filme, o diretor da Academia discursa e dá ênfase aos princípios que regem aquela instituição: tradição, honra, disciplina e excelência. Era uma época em que as expressões artísticas não tinham tanto espaço, mas engana-se quem pensa que isso mudou radicalmente. A liberdade de expressão ainda é cortada, só que de maneiras mais sutis, mais alienadoras. E ver o filme vai nos fazendo encaixar essas tristezas na nossa realidade e observar o quanto a real inteligência (sobre a qual falo mais aqui), aquela que remete à imaginação, à criação própria, prossegue sendo demasiadamente asfixiada, e assim o nosso mundo vai deixando de evoluir para onde poderia (e cito mais disso no que falei sobre o filme abaixo). O temor de que uma mente pense sem as "métricas impostas" é aquele que domina os "dominantes" que nem sabem dominar. E, além dessa linha de críticas ao sistema, o filme vai relatando muito mais reflexões sobre diversas temáticas.

Na obra, portanto, o novo professor de literatura, John Keating (Robin Williams), é ex-aluno da Academia e traz uma nova forma de ensinar. Keating se contrapõe ao sistema de ensino e introduz seu ideal pedagógico. Seus métodos são inusitados, e justamente por serem uma busca à originalidade, a utilizar do antigo para transformação, eles levam os alunos a pensarem por si próprios, a terem uma visão crítica, a exporem seus sentimentos escrevendo, descobrindo formas de releituras internas. O professor Keating, que na primeira aula informa que gostaria de ser chamado de "Ó Capitão! Meu Capitão! (Ó Captain! My Captain!)" em alusão a um poema de Walt Whitman, tenta, inclusive com isso, demover seus alunos da passividade criada pelo sistema de autoritarismo, que não permite que eles reflitam sobre suas vidas e seus desejos, utilizando de tal metafóra que lembra que ninguém é total capitão de ninguém. Todos devem observar quais são seus próprios princípios e escolhas.Neil Perry (Robert Sean Leonard), Knox Overstreet (Josh Charles), Charles Dalton (Gale Hansen), Steven Meeks (Allelon Ruggiero), Gerard Pitts (James Waterston), Richard Cameron (Dylan Kussman) e Todd Anderson, cada um com seu cada qual, tem algo que se assemelha com o novo professor de inglês do colégio: talentos diversos, como todos temos, mas um que gruda nos seus gostos, que precisam libertar, que pode mudar o mundo.

As aulas de Keating vão seguindo o mesmo padrão vanguardista, mostrando aos rapazes que poesia não é simplesmente um conjunto de versos que o homem coloca no papel, mas sim aquilo que ele sente e aquilo que só é, de fato, compreendido, quando o leitor não somente tenta interpretar, mas também sentir. Keating logo vira o professor preferido dos estudantes e também uma espécie de herói. Aquele que contesta o regime, que inflama as mentes dos jovens para a mudança. Keating é uma figura e tanto, e após procurar informações suas no anuário do colégio, o grupo formado por Perry, Overstreet, Cameron, Meeks, Pitts, Dalton e Anderson descobre uma tal de Sociedade dos Poetas Mortos. Sem fazer ideia do significado, eles resolvem perguntar pessoalmente ao professor. Ele responde, com certa paixão na voz, que se tratava de uma organização estudantil que se reunia à noite em uma caverna próxima à escola, para recitar poemas e delirar com a imaginação que as leituras provocavam; isso vai influenciando o telespectador a querer ler mais o mundo, a querer discutir mais sobre a vida, a observar o quanto nos falta a atenção para o que muito hoje consideram detalhes "tediosos". São esses detalhes, no entanto, que vão nos tornando mais conhecedores de nós mesmos e do exterior.

O povo ri de um aluno descobrindo seu dom, mas quando esse dom não para, quando ele é apenas prosseguido, os olhos passam a por ele brilhar; basta um incentivo, basta que as coisas consideradas "ridículas" possam ser vistas como tesouros, e isso só ocorre quando alguém está disposto a abrir um baú brilhante na cara de todos. Um dos alunos mais tímidos descobre seu dom poético, e vai calando os desdéns enquanto recita de forma espontânea, por impulso do professor, o que enxerga ao ver um quadro: "Fecho meus olhos. Uma imagem flutua ao meu lado. Um louco, suado e sonhador, com um olhar que golpeia meu cérebro. As mãos dele me estrangulam. E ele está balbuciando algo. Balbuciando 'a verdade'. A verdade que é como um cobertor, que sempre deixa seus pés com frio. Você empurra, estica, nunca há suficiente. Você chuta, bate, nunca nos cobrirá. Desde que chegamos chorando até partirmos mortos. Só cobrirá seu rosto, enquanto você berra, chora e grita". E a cada cena assim, uma explosão de mensagens são firmadas, como tantas cabem nesse mesmo momento.

Seguindo os passos de Keating, mesmo sem esse ter ciência disso, os rapazes reúnem mais uma vez a Sociedade dos Poetas Mortos e, sempre que podem, vão até a caverna para imaginar o que quisessem. Tal atitude é a simples e pura liberdade de pensamento, um pensamento autônomo e novo. "Carpe Diem", que significa "aproveite ao máximo o seu dia! Tornem suas vidas extraordinárias!", vira o lema dos garotos. Mas é claro que tudo tem sua consequência. E a licença poética que Peter Weir concede a si próprio encontra-se justamente em mostrar-se tendencioso no início, mas extremamente equilibrado e sensato no final. O próprio cineasta se faz passar por poeta. Mas será que Peter Weir não é realmente um poeta? Acreditou religiosamente no poder que as palavras do roteiro de Tom Schulman tinham sobre a realidade, tratou o tema com respeito e criou uma obra-prima como poucas. "Na vida há tempo para se arriscar e tempo para ser cauteloso, um homem sensato sabe qual é a altura certa para cada uma destas coisas", lembrando da imensa estupidez que seria tentar abdicar de uma delas, mas sempre optando pelo lado "Carpe Diem", porque ter calma também é aproveitar, é escrever, é ir arriscando desde quando toma a decisão de arriscar. E essa é uma das milhares lições abordadas.

Os personagens vão tendo seus destinos traçados através da autodescoberta. Knox, descobrindo amor, parte para a conquista, e pouco lhe importam as consequências; Charlie encontra na poesia e na música a sua inspiração; Meeks, o "nerd" (como todos somos em algo), se mostra cada vez mais decidido, e não larga o espírito vanguardista que adquiriu por tradição, disciplina, honra ou excelência nenhuma (mais vale seus objetivos e caráter que defende ou uma cultura?); Todd encontra sua verdadeira identidade nos amigos e na poesia; e Neil, com sua predestinação para ser ator, com o medo de enfrentar o pai e com o impedimento de libertar-se do autoritarismo familiar, traz o mais exemplar significado da quebra de valores clássicos, que foram rompidos conforme a liberdade e seu sentido de respeitar o que acredita e o que jura por amor, foi se alastrando pelo enredo. Esse último personagem e seu trilhar, nos encaminham para os exemplos de talentos perdidos no nosso cotidiano por puras e toscas opressões.

Um ponto para ficar atento, portanto: o filme não só nas falas traz poesias, mas em suas construções imagéticas, como quando Neil coloca uma coroa que pode ser representação da "coroa de espinhos" utilizada por Jesus em sua cabeça, mostrando que por ficarmos presos às influências da dita "realidade", por preconceitos, por falta de crença na diferença, por falta de saber respeitar e enxergar mais à frente, apedrejamos/crucificamos aqueles que poderiam nos salvar, nos dar voz, nos dar mais garras! Porque são os talentos e caráteres dessas pessoas, o que elas fazem com o que tem, que deveriam sempre contar, e não seus demais moldes que estão mais para dentro ou mais "para fora" do que é imposto como belo em determinada época. O que todos continuamos sempre querendo é respeito, só ele nos ajuda a evoluir. Falta lembrar que tudo muda; assim como medicina, em uma época, já foi profissão que nem dava lucro financeiro, eram padres os maiores "curandeiros" de muitos locais, porque muita coisa era vista como "possessão" e não doença (imagina se todo mundo julgasse negativamente e reprimisse sem parar os que desejavam evoluir a ciência? Se atrasássemos ainda mais?). Dialogar é o único meio justo de chegar em algum lugar, debater, falar. Expressar! Expressar não só nos faz exibir o que já sabemos, mas descobrir o que nem sabíamos sobre o que achamos já saber. Tudo poderia ser diferente caso Neil expressasse mais na última ocasião.

Uma obra-prima para assistir a qualquer momento, com qualquer companhia, contanto que esteja disposto a discutir, refletir além. Uma sequência de diálogos sensacionais em todas as cenas. Um filme que, em vez de apresentar a narrativa de forma tendenciosa, cumpre seu papel como formador de pensamento autônomo, e mostra que a leitura interior e o não receio em exteriorizá-la é a chave para todas as conquistas. Mostra que o verdadeiro sábio é aquele que sabe quando contestar, contanto que não deixe de fazer a contestação, e aquele que sabe quando usar a liberdade por ele conquistada. Deixa implícito que a poesia pode mudar o mundo e que ela não é feita somente de palavras à tinta, mas sim feitas de ações. "Quando você pensa que conhece alguma coisa, você tem que olhar de outra forma. Mesmo que pareça bobo ou errado, você deve tentar!"; é como costumo dizer, por isso que amo metáforas, ela é olhar para um sapato e enxergar uma casa inteira, com sentido para ver assim. Só assim podemos entender, de verdade, os significados sempre remodulados que podemos atingir. Só assim podemos ter, de verdade, autoconhecimento. E só ele nos mostra, de verdade, que a verdade é relativa, enquanto mostra o mundo sem máscaras diante não apenas dos nossos olhos, mas das diferenças que podemos causar, da vida que podemos viver como nossa vida apenas se olharmos em pés em cima da mesa. Como disse em uma frase do próximo livro: "Nada nunca sara, porque tudo pode ser relido" (e deve).

  • Filme 2: O Substituto

Ainda no ambiente de professor-aluno (que pode e deve ser visto para muito além disso, sendo, principalmente, de pessoa-para-pessoa), temos "O Substituto", um filme raro que pode ser visado em perspectivas metafóricas bastante intensas, nos lembrando que todos devemos querer ser professores, porque devemos desejar fazer a diferença, levar acréscimos (para nós e além), e para isso precisamos ser eternos alunos da vida, assim como tal mensagem percorre em permanência no filme anteriormente recomendado. A escola da trama pode ser vista como as nossas ruas, o nosso país e suas convivências em qualquer classe, imersas dentre corrupções alimentadas por cada um de nós. É preciso respeitar para aprender melhor e ensinar melhor, para crescer livre. A obra retrata como mesmo uma boa índole pode, por culpa de todos nós, ficar enraivada e perder a chance de grandes dons, os quais poderiam enriquecer caminhos variados em diversas vidas.

Um soco na cara sem preocupação com marketing e com regras capitalistas: é o que "O Substituto" consegue ser. Poucos filmes têm esse milagre da reflexão, não aquela reflexão simplista de uma bela lição de moral que vem ao final, mas uma densa, que desde o início até o seu término nos faz perguntar: "e agora?", como também ocorre em Sociedade dos Poetas Mortos, só que com uma indagação ainda mais firmada, já que é como se o "Sociedade" nos emitisse mais respostas (apresentando, apesar, problemas ainda vivos e persistentes), enquanto esse outro joga mais no ar as perguntas que devemos hoje fazer, deixando as soluções mais implícitas e torneáveis. A escola como cenário nunca foi tão melancólica quanto nesse filme, que funciona quase que uma extensão do longa-metragem francês "Entre os Muros da Escola".

Em tom documental, vemos os relatos de Henry e dos outros professores enquanto trabalham numa escola pública, tão abandonada e tão real quanto qualquer escola que já tenhamos frequentado ou lido nos jornais. Tony Kaye denuncia a ruína do sistema educacional, de forma realista, impactante e com uma linguagem universal. Uma dura realidade, que ganha proporções ainda maiores quando são inseridos personagens tão miseráveis, tão distantes de si, sentindo o vazio diário, vazio que vem em resposta de um mundo que não os vê. "O Substituto" é um flagra do ponto limite desta situação, o limite de cada personagem, é como se em cada cena algo gritasse, "este é o mundo em que vivemos", cada vez mais devastado e entranhado em lógicas não humanitárias, mas financeiras, sem perceber que só um sistema de teias e enriquecimento de ensino e suporte, pode realmente sustentar as crises que esses tipos de falhas vão causando. É um ciclo de perdas criadas por uma visão que debilita a aprendizagem e o amor ao outro para visar egos, e que faz que nenhum consiga a salvação que poderia; escorrendo apenas para ruínas.

O filme já inicia de forma densa, é preciso estar preparado psicologicamente para enfrentar seus minutos, é do tipo que não funciona com os amigos em um divertido final de semana de propostas leves. Não é uma obra com fórmulas da cultura pop; é uma obra atemporal. Em suma, um filme único, belo, edificante, onde o diretor Tony Kaye se utiliza de uma linguagem poética para debater os problemas sociais e revelar os conflitos existenciais de seus personagens, havendo beleza em cada cena, em cada diálogo, auxiliado por sua constante e emotiva trilha sonora. Um mergulho na alma desses indivíduos, que como consequência, nos faz questionar sobre nossa própria existência.

O título do filme, na versão original, teria tradução para "Indiferença". Indiferença é um "não lugar", uma invisibilidade, um não reconhecimento de si no ambiente. Um primeiro olhar nos remete ao ambiente escolar, o que nos faz crer que o foco é o sistema educacional em decadência. Entretanto, a trama vai muito além, nos propondo reflexões profundas sobre existência. O longa é bem existencialista, no sentido filosófico da palavra. É um drama existencial repleto de sentidos e não "sentidos". O personagem principal é professor substituto, o que o configura como a impermanência, não aquela que nos permite o desapego, a renúncia, a aceitação das mudanças. O conceito aqui é usado para definir fuga, trata-se de uma "defesa" (e será que a fuga nos defende ou apenas nos põe mais sobre os perigos das nãos descobertas? Dos nãos alcances?), o movimento de evitar a autenticidade, riscos que o vínculo pode provocar, e que, porém, são os únicos que nos dão riquezas permanentes. No desenrolar da trama, somos aos poucos informados das possíveis "razões" que promoveram tal comportamento. Tendo como ponto de partida o texto de Edgar Allan Poe,"A queda da casa dos Usher", o drama aborda a queda de um sistema.

Cenas melancólicas retratam o isolamento, a falta de contato com outros sistemas como agente provocador do esvaziamento. Pais, professores, alunos; todos se trancam em seus universos particulares, incapazes de trocas nutritivas, transbordam frustrações. O sistema, por falta de alimentação, adoece, assim nos ensina a "teoria de sistemas". De fato, é isso que assistimos na trama, a escolas e as pessoas não mais trocando pratos fartos. Henrý tenta fazer a diferença em seu ofício, mas também se preserva. Os fantasmas de sua infância teimam em assombrá-lo. Aqui, também, os rótulos são responsáveis por algumas situações críticas, como no caso de Meredith, que por ser obesa é alvo de Bullying e vai sofrendo repressão em diversos meios, inclusive por um talento incrível que poderia desenvolver e levar como reflexão para diversos cantos do mundo. Perdemos heróis como ela todos os dias por motivos, no mínimo, semelhantes. Perdemos talentos que são reprimidos, perdemos pedaços do nosso futuro, por vivermos tratando a realidade como algo inescapável. A personagem Meredith, sofre humilhações diárias, é agredida verbalmente por seus colegas e pelos seus próprios familiares. O universo caótico é pessoal e educacional, retratando uma realidade dura, que incomoda o telespectador, chegando a sufocar.

As individualidades são atropeladas por um sistema que as reprime, as ignora. A trama transcende a principal discussão, a crise no ensino, se transforma em uma ampla discussão sobre a crise existencial, particular e universal, exibindo como cada ambiente desencadeia nessas séries de ocorrências em outros. A crise educacional é, então, apresentada como resultado de uma crise maior: de relações humanas. Tudo é evidenciado em personagens marcantes, como: o professor Charles que usa antidepressivo; a psicóloga perde o controle, após tanto se esforçar em seu ofício; e, a diretora que descompensa ao ver seu sonho de ensino ser transformado em moeda de mercado. Henry, que a princípio se mantém afastado, acaba sendo envolvido em outros dramas. A aluna marginalizada, a prostituta e a professora ameaçam tocá-lo. Acontecimentos trágicos, como a má interpretação da professora, a revelação da prostituta como alguém capaz de cuidar, de dar carinho e um trágico suicídio lhe dão ferramentas para enfrentar seus fantasmas, descontruindo a ideia de que uma pessoa é somente um título, somente um algo. Todos são as pluraridades que mostram na mais aprofundada essência, todos esses plurais encontram uma mesma índole, mas com diversas vertentes em si. São essas três pessoas que farão, principalmente, Henry compreender sua importância e o quanto seu envolvimento pode salvar vidas, incluindo a sua, assim como qualquer um pode e deve fazer.

Quando o protagonista, ainda assombrado por seu passado, tenta acolher a aluna marginalizada, provoca a má interpretação da professora. Sua reação é gritar, como se quisesse dizer a si mesmo que não pode ser a repetição do avô. Seu medo fica evidenciado quando tenta proteger a menina prostituta - de si mesmo, a encaminhando para um abrigo. Nessa altura, seu avô já tinha morrido, ele tenta voltar ao mecanismo de isolamento, anunciando o fim de sua temporada na escola. Sua tentativa de permanecer protegido em seu isolamento é frustrada. Depois de se arriscar em contatos autênticos, ele já havia se transformado, tinha tocado os outros e permitido ser tocado, não era possível ser o mesmo. Não há final feliz, não há respostas, a transformação é sofrida na dor, parte da depressão, do suicídio, do vazio, da devastação. A inclusão é possibilidade, o outro é parte do mesmo todo que componho, as relações autênticas nos transformam, tudo isso é caminho. Impactante, o filme provoca diversas reflexões. Existem sempre fortes frases presentes nos diálogos e monólogos da trama, cada uma dessas sentenças nos leva a diversas entrelinhas. Cada cena passa uma mensagem de força crítica imensa. Não um filme para simplesmente ir enlaçando as lições de partes em partes, é para ir digerindo o mundo de lições dentro dos seus segundos separadamente.

"Incoerência é acreditar deliberadamente em mentiras sabendo que elas são falsas. Por exemplo: eu preciso ser bonita para ser feliz; ser magra, famosa, estar na moda... Os nossos jovens de hoje são ensinados que as mulheres são prostitutas, vadias, coisas para serem fornicadas, espancadas, envergonhadas. Isso é um holocausto publicitário, vinte e quatro horas por dia, pelo resto de nossas vidas. Os poderes instituídos vivem nos emburrecendo até a morte. Então, para nos defendermos e conseguirmos lutar contra a assimilação dessa burrice em nossos processos mentais, temos que aprender a ler, para estimular a nossa própria imaginação, para cultivar a nossa própria consciência, nossos próprios sistemas de crenças. Todos nós precisamos dessa competência para nos defender, para preservar as nossas mentes". E a leitura aqui dita pelo professor é também de vida, de cada momento procurando interpretar se aquilo é algo que está fazendo porque faz parte de si, ou se é algo que está fazendo porque faz parte de uma cultura de imposições que pode mudar totalmente (como já mudou em vários quesitos e sempre mudará, para mais ou para menos) daqui há algum tempo; é também leitura em artes diversas, como filmes e músicas (além da escrita como base principal), é leitura ao conversar, ao escrever, ao interpretar mais de si sem influências externas. É leitura no seu grau mais sóbrio: no silêncio do barulho interno. É leitura ao ler sempre indagando sobre o que está lendo! Ler fazendo suas próprias teses. Ler criticando, inovando, acrescentando com o que carrega em seus princípios. Ler levando em conta o que acha que precisa mudar e o que acha que deve evoluir. Ler descobrindo o que acredita ser de valor e o que o mundo tem fingido ser. "O coração inteligente de uma criança pode desvendar as profundezas do mundo e dos locais sombrios, mas poderá entender o delicado instante de seu próprio distanciamento?".

Quando alguém perguntar qual é a sua história, você vai preferir ser uma bactéria dentro do sistema ou uma que foge dele até ser sufocada por uma união de antibióticos que causam mortes em massa? Quando tentamos ser história pingando um pouco em cada canto, mas nunca fincando em nenhum, vamos ser apenas capítulos, e por mais que eles façam a diferença dependendo das suas intensidades e consequências, nenhuma bactéria detona, de fato, algo sem ficar até comer o máximo que pode. Quem fica na porta e não invade por achar que é melhor não piorar o incêndio, morre queimado de qualquer maneira.

É claro que, ratificando a minha visão dita implicitamente, essa obra, quando comparada com "Sociedade dos Poetas Mortos", não vence. Mas não é também, de maneira alguma, dispensável. Os pontos são de acréscimos para os já apresentados com maestria no primeiro filme, são complementares. É mais uma porta crítica, é mais uma leitura aberta, esperando suas leituras a mais.

E então, já assistiu algum dos filmes? Já leu algum dos links? O que acrescenta em relação às reflexões principais citadas? Não deixe de comentar suas opiniões! Vamos evoluir com trocas a mais.


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