SOBRE OS ÚLTIMOS FILMES QUE ASSISTI #3

sábado, março 19, 2016


Na correria da última semana, assisti a poucas obras cinematográficas (apesar de estar tentando cumprir a minha lista gigantesca de filmes prometidos para devorar), mas as poucas bacanas que vi, não poderia deixar de compartilhar com vocês. Informo que apenas uma da lista não é baseada em fatos reais, ou seja: muitas histórias vividas à flor dos ossos palpáveis estão abaixo para nossas incríveis inspirações. Caso você não tenha visto as outras duas postagens dessa sequência de análises breves dos "últimos filmes que assisti", você pode conferir a primeira clicando aqui e a segunda clicando aqui. Lembrando que aqui indiquei também recentemente diversos dos últimos filmes, documentários, músicas, livros e mais que vi, ouvi ou li, fazendo curtas análises sobre. 

  • Magia Além das Palavras: A História de J. K. Rowling

Magia Além das Palavras: A História de J. K. Rowling (no original em inglês, Magic Beyond Words: The J. K. Rowling Story) é um filme biográfico, produzido pela Lifetime, sobre a vida de J. K. Rowling, autora dos livros da série Harry Potter e de diversos outros posteriores, como os lançados, ainda, através de pseudônimos. O filme é uma produção independente, não foi exibido nos cinemas e estreou diretamente em canais de televisão, como Universal Channel. O filme mostra a trajetória de Joanne Rowling, desde sua infância até o lançamento do primeiro filme baseado em seus livros, Harry Potter e a Pedra Filosofal. A criação da história do bruxo mirim, no entanto, permanece em segundo plano, uma vez que o filme é focado em aspectos até então pouco conhecidos da vida da escritora: seu primeiro casamento em Portugal, o conturbado relacionamento com seu pai e o período de pobreza e depressão que viveu antes de seu primeiro romance ser publicado. O filme não foi autorizado por Joanne Rowling e, por isso, talvez, possamos sentir o quão poderia ser mais aprofundado, detalhista, o que não faz, em outra via, a obra perder o seu encanto e lições de força. O filme é protagonizado por Poppy Montgomery (Without a trace, Blonde). Fã declarada da série.

Apesar de uma certa sensação de "correria" para fechar certas fases em determinados momentos do longa, as vertentes de variadas das mensagens incríveis que a história de Rowling pode nos emitir, ganham vida e tocam profundamente nossas sensações reflexivas. Para quem não conhece mais afundo a caminhada da autora e imaginava que lançar a sua obra foi algo pouco dificultoso, é um tesouro a ser revelado. Para escritores, empreendedores, fãs de estórias, de cinebiografias inspiradoras e qualquer ser humano que permita mergulhar em boas inspirações, a obra é um baú brilhante; não por ser um filme incrível, por ter um roteiro genial, mas por ser uma história incrível, de uma pessoa genial. Uma mulher que cresceu por não se permitir ser menos, por não permitir que alguém a diminuísse, por saber observar quando algo estava fazendo mais mal do que bem, e ao chegar nesse ponto, seja em relação ao que fosse, dar no máximo mais uma chance (para não ser alguém de "e se...") e, após, já não continuar. Não permitindo a infelicidade que é tentar ficar próxima de um equilíbrio quando o peso maior está sempre no que não alimenta a alma (e aqui entra seu primeiro casamento, seu primeiro emprego, etc).  

Uma das mensagens mais presentes emitidas é a da relação direta que a nossa vida pessoal deve ter com a profissional, ainda que devamos separar certos quesitos emocionais em devidos andamentos. No livro de Harry Potter, a vida da J. K. está presente de formas metafóricas, mas alastrada por toda a obra. Quando você utiliza suas experiências, desabafos, ângulos mais negativos e positivos para criar sua arte, é quando ela realmente vira uma. Nas menores coisas, também, vinham agigantados detalhes para sua obra literária: tudo o que fazia parte do seu entorno, ela enxergava como possibilidade criativa, e isso fez surgir um dos mais agigantados best-sellers do mundo. Uma necessidade, como não ter luz em casa, causando o uso de velas, já a fazia imaginar algo ali a ser criado e aliviado ao ser visto como mais belo. Enxergar as maiores soluções nos maiores problemas, foi um dos pontos mais incríveis que a Rowling cativou ao desenrolar sua trama criativa e tão pessoal (que reúne, por exemplo, exclamações como uma homenagem para o seu amigo de juventude, tão dito em entrevistas como inspiração para o Rony, e rapidamente mostrado no longa). É como ratifico e disse um pouco já aqui: Não é apenas uma mensagem de filme da Disney, uma frase de efeito ou uma ideologia barata dos incuráveis românticos. A maior verdade do mundo, é que só o amor dá prosseguimento às coisas. Pode ser uma ideia asmática para uns e abrangente para outros. Mas nos eixos de quaisquer temas, de quaisquer círculos, essa sempre é a resposta. Romance sem amor, não é romance, ou apenas não com paz, porque paixão a tira, e amor a devolve. E todos os opostos a ele são efêmeros e vagos. O que não é amor, é tesão de segundos, é o encanto de uns meses, é o que não vem em mente no desespero de ter um suporte e tampouco de suportar. Trabalho sem amor é escravidão. Aspiração sem amor é vontade momentânea, e então deixa de ser um sonho e passa a ser apenas uma fugacidade facilmente substituída. Só o amor nos humaniza de fato, só ele nos leva a ser realmente fortes. O dinheiro, a classe, o sexo, a beleza, nada segura uma pessoa em choque com grandes empecilhos como o amor consegue. Sem amor, é vazio. Sem amor, é nada. Sem amor, coitado. Sem amor, é tudo lixo não reciclável. O fato de fazer o que ama com persistência e de que, só assim, alcançaremos sucesso, é totalmente entrelaçado no filme com a lição, ademais, de que sucesso é algo completamente relativo (como falei nesse vídeo aqui, ao destrinchar um pouco sobre o documentário da Amy). Talento, para gerar frutos, precisa de treino. Treino precisa de repetição. Repetição precisa de paciência. Paciência precisa de vontade. Vontade precisa de motivo. Motivo precisa de querer. Querer depende dos objetivos. Os objetivos dependem de quem é. Quem é depende dos gostos, e os maiores gostos estão vinculados com os talentos. E saber reconhecê-los, mesclando com o que adoramos, é o que nos leva para o caminho do nosso (tão particular) sucesso. Nada "prático" (como diz o pai da Jo), vira prático quando não está incluso no nosso subjetivo.

A Jo tinha outros talentos além da escrita, como o saber e gostar de desenhar, mas tinha total noção de em qual dos seus talentos seu coração realmente estava agarrado, e esse processo de autoconhecimento foi fundamental para mudar o rumo de toda a sua história. Foram tantos "nãos" da vida, tantas dificuldades que poderiam tomar lugar como prioridades completas, mas ela não abandonou seu prazer de vida por nada, ela fez em paralelo sempre, mas fez. 

Outra mensagem transmitida de forma mais implícita, porém clara, é a de que conciliar demandas não dói quando existem objetivos que estão ligados aos nossos valores. Se você não consegue se visualizar agora, neste instante, fazendo "tal coisa", se só pensa na cena de você atuando naquilo daqui há anos, o caminho tem problemas. O seu emprego tem que ter a ver com a sua personalidade, com as suas manias, com as suas visões de mundo, cabendo em desejos que podem ser construídos com tempo e cautela, mas que devem dar a capacidade de manter-lhe sem desgosto nas horas dos "perrengues" que toda área terá, assegurados a tópicos que não vão embora com facilidade mesmo se todos os seus gostos mais superficiais mudarem. São pontos que vão dar aquele ar de "tudo bem, isso faz parte de quem sou, então, vamos em frente". Pense sempre no legado, no que vai deixar além dos ganhos próprios. Não há quem possa definir esse tipo de escolha para você. Há quem possa dar dicas, ajudar a clarear caminhos. Mas só quem sabe tudo sobre você é quem pode apontar. E quem é essa pessoa? É aí que está a questão básica. Se você tem uma base financeira fazendo algo próximo do que gosta, ainda que não com a totalidade que gostaria, você vai ter a possibilidade, de com isso, produzir diversos fatores de mais completude. Uma coisa abre portas para outras e temos que saber sim, enlaçar. Não precisamos abandonar outras oportunidades para lançar os nossos livros (metaforicamente falando). Então claro que, em certos casos, é preciso ficar em uma janela enquanto deseja estar em um arco, mas o que não dá é ficar em círculo enquanto deseja retângulo: Os passos têm que ter a ver um com o outro, tem que ser teia, sem anulações, sem parar dos dois lados. Então, se você gosta, por exemplo, de escrever, e deseja trabalhar em uma editora de livros, mas no momento não encontrou vaga para o emprego, trabalhar em um jornal pode abrir alas, só acrescenta e não atrasa. É esse o ponto. O que não adianta é ficar no que não produz mais esperas. Quando você para de aguardar ou fica estático em algo que nunca fez aguardar nada ou que faz um aguardo que sabe que depois de alcançado, não resultará em novos, aí sim, não adianta organização ou o milagre que for. Aguardar e fazer para parar de aguardar, alcançando o que aguardou e vendo novas esperas, é o segredo para que ter disciplina valha a pena. Porque obstáculo muda de nome para etapa quando se está onde sente esse aguardo enquanto faz. Como a mãe da própria Jo disse quando ela queria ler e fazer os deveres de casa: "Você sabe que pode fazer os dois, não é?", basta que saibamos organizar o tempo e levar ambos como prioridade, afinal, um ali iria impulsionar para melhorias do outro. A leitura seria mais aprofundada pelo estudo de novos conteúdos, e a leitura aprofundaria na visão dos novos conteúdos estudados. É aí onde mora o segredo.

A Jo poderia ter escrito um livro mais curto, ter utilizado uma linguagem mais comercial para a época, ter procurado encaixar atrativos no seu primeiro livro, focando nas demandas da fase para o seu público alvo. Muitas editoras negaram a obra dela por não estar vinculada a esses detalhes "mercadológicos" do período dito (que muito se encaixa ainda hoje), mas justamente por não dar enfoque para nada disso, por fazer o que acreditava, o que não distorceria a verdade da sua arte, é que ela alcançou algo atemporal! Ser sincera consigo, fugir dos padrões, não se modelar ao mundo, mas levar para o mundo um novo modelo, foi o que fez de Harry Potter, Harry Potter. 

  • O Impossível

O Impossível é um filme baseado na experiência verídica de María Belón e sua família que sobreviveu ao Sismo do Índico de 2004. Maria (Naomi Watts), Henry (Ewan McGregor) e seus três filhos, Lucas (Tom Holland), Thomas (Samuel Joslin) e Simon (Oaklee Pendergast) estavam aproveitando suas férias de inverno na Tailândia. Mas na manhã do dia 26 de dezembro de 2004, enquanto todos relaxavam na piscina do hotel após as festividades de Natal, um tsunami de proporções devastadoras atinge a costa, criando um marco eterno em suas vidas e nas de tantas outras que foram se conectando. Uma história sobre humanização, amor, família, persistência, garra, autoconhecimento (para saber quais seus sentidos de vida e como a encaminhar) e muitas outras temáticas que nos transportam para intensas sensações e reflexões em uma agonizante jornada em que o elenco se doa de tal maneira que toda a inimaginável dor se transforma num sentimento quase palpável.

A trama não "perde tempo" em contar a história prévia daqueles personagens com fulgor, já que eles nunca serão os mesmos depois do que irão enfrentar dali adiante. Maria (Naomi Watts), a mãe, é médica, mas vai precisar dos cuidados do filho mais velho, e é essa é apenas uma das amostras do quanto sempre estaremos a depender de outros, ainda que de formas mais indiretas, e para que não estejamos totalmente impotentes em traumas da vida, só o caráter prioritário, só nossos atos anteriores, é que podem iniciar a nossa salvação. Deixar de legado de bondade, de honestidade, de admiração, é o melhor plano de saúde para qualquer pessoa, e é nisso, principalmente, que as lições da obra estão focadas.

O desespero da outra parte da família não é menor: o pai (Ewan McGregor, ótimo) consegue salvar os outros dois filhos; não tem ideia, porém, de onde foram parar a esposa e o primogênito. Esse, um medo inexplicável – o de não encontrar respostas em meio à incerteza e ao caos, já que o lugar foi inteiramente assolado pelo desastre, o que pode servir como metáfora ideal para refletirmos sobre momentos de interrogações assim e sobre como administrar as nossas prioridades, ainda que várias fiquem em mesmo patamar de importância. Devemos buscar não fazer algo que possa levar embora a possibilidade de cativar um ponto primordial, mas, simultaneamente, devemos ficar atentos às renúncias feitas para tal almejo, para que essas também não prejudiquem uma das prioridades contidas. E o pai, com seus erros e acertos, vai nos levando para uma caminhada em âmago sobre esse tipo de divisão, que deve, na verdade, virar soma, e não subtração entre uma parcela e outra.

As cenas mais emocionantes para mim são as de suportes alheios, famílias ajudando outras famílias, pessoas dando a mão para desconhecidos e fazendo a diferença na vida de outro ser. Aquelas trocas são evoluções que estarão durando incessantemente para um e para outro após o ocorrido, assim como qualquer ato nosso, na vida de quem for, pode ser algo definitivo para causas gigantescas. Cada um com seus maiores talentos, com suas maiores especialidades, permitindo ouvir ao outro, permitindo abrir alas para ajudar e ser ajudado: são cenas de como funciona o nosso mundo, em teia, sempre, e do quanto o bagunçamos quando queremos ser apenas médicos e vamos limitando nossos aprendizados por não olhar o quadro em outra versão.

O lado humano nas suas maiores densidades é muito bem explorado no filme e implanta um desejo incontestável de fazer o bem, nos atiçando a refletir sobre o quão é fundamental e prazeroso. Apesar de línguas diferentes, no desespero e no calor do desejo de dar suporte ao próximo, pessoas de diversos países conseguem se comunicar, ratificando o clichê seguro de que sempre podemos dar um jeito quando queremos em graus elevados. Preconceitos e mesquinharias viram nada diante de casos assim, e nos deixa o toque de que devíamos levar a vida como se estivéssemos na pele daquelas pessoas, vivendo um momento trágico desses, porque só assim, deixaremos, de fato, nossos corações em ordem e um legado útil.

Um longa para refletir sobre os próprios valores, sobre o que é maior do que qualquer carne; para pensar no outro, seja nos outros que amamos ou nos outros que nem conhecemos e que podem já estar causando impactos nas nossas vidas. Uma obra para refletir sobre a fragilidade que o homem tem diante da natureza como todo e, por isso, devemos estar mais atentos ao que damos como troco para a nossa própria casa. Um filme para indagar sobre como a humanidade, se fosse mais humana em seus atos, em seus empregos, em suas visões, tornando tudo menos egocêntrico, evoluiria para o melhor. Uma história para nos lembrar que impossível mesmo, enquanto vivos, só existe para quem enxerga a tsunami como fim. 

  • Interestelar  

Interstellar (no Brasil, Interestelar) é um filme anglo-americano de ficção científica dirigido por Christopher Nolan e estrelado por Matthew McConaughey e Anne Hathaway. Ele conta a estória de uma equipe de astronautas que viajam através de um buraco de minhoca à procura de um novo lar para a humanidade, já que a trama se passa em uma época futura em que a Terra está muito deteriorada, os alimentos estão cada vez mais escassos e a humanidade está cada vez mais perto da extinção. Nesse cenário, Cooper (Matthew McConaughey), por uma série de acontecimentos, acaba encontrando um esconderijo secreto da NASA. Lá, o protagonista conhece cientistas que explicam para ele sobre o plano de ir para o espaço e tentar encontrar um planeta que seja habitável. Sendo Cooper um engenheiro e ex-piloto, os cientistas pedem para que ele participe dessa missão. E, apesar da tristeza de ter que abandonar seu casal de filhos, Cooper concorda em viajar para o espaço com o grupo de cientistas justamente por visar, acima de tudo, o bem-estar daqueles que ama.

Interestelar é, sim, uma ficção científica das mais puristas, cheia de questionamentos e que explora como poucos não só a ciência, mas também a humanidade e conceitos nada científicos, como fé, amor, escolhas sempre gerando renúncias (o que nos leva a quesitos grandiosos também sobre prioridades e como administrá-las). Outra mensagem forte da obra vem em formatos críticos, quando, por exemplo, entendemos que Brand sabia que as pessoas não iriam cooperar para salvar a humanidade se não incluísse salvação para si mesmas e a seus familiares e, por isso, esconde o que acaba por esconder (será entendido quando assistir), logo, vemos aqui a falta do ser humano de pensar em algo maior do que a si. Por outro lado, vemos também o fator de que Brand pode ter tomado tal decisão para impulsionar, nas mãos dos demais cientistas, a busca de alguma outra solução, que pudesse de fato ajudar na salvação deles e de quem amavam, já que nada seria impossível e não podemos afirmar que tudo está perdido só porque uma tentativa foi erro. Um bom líder repassa esses clichês não dizendo, mas demonstrando, foi o que ele fez.

A trama nos faz refletir sobre o quanto não adianta apenas alcançar o crescimento da planta se não regamos, e para regar bem, não precisamos somente da água, mas do sol, de um bom solo, e de inúmeros fatores. Não adianta a tecnologia de ela não é utilizada para cuidar do que a mantém! Se vamos perdendo o sol, o solo e a água, perdemos a planta e regredimos para a escassez. Prioridade é cuidar de um conjunto de tantas outras prioridades e de escolhas que não prejudiquem o procedimento das tais.

Para criar a obra, Nolan pegou as teorias do físico Kip Thorne que seu irmão Jonathan estava roteirizando para Steven Spielberg dirigir. Depois que o diretor de E.T. - O Extraterrestre e Contatos Imediatos do Terceiro Grau se afastou do projeto, Nolan tratou de usar seu poder atual em Hollywood para conseguir os direitos e reescrevê-lo - ainda com a colaboração de seu irmão e Thorne. Mesmo sendo um filme complexo, não podemos negar que Interestelar é um dos maiores filmes dos últimos anos. A ideia de viagem no espaço sempre esteve na imaginação do ser humano, e o filme explora isso de uma forma empolgante e incrível, desdobrando reflexões que vão desde quesitos mais sociais, sobre como estamos lidando uns com os outros e o quanto isso também impacta em que como estamos lidando com a nossa Terra em geral, até fatores cabíveis como mais íntimos, como já citados.

Com algumas revelações e reviravoltas, o roteiro tem seus altos e baixos, mas prende a sua atenção desde o início. Interestelar começa como um emocionante drama, explicando o que está acontecendo no mundo, a missão, as complicadas teorias e a relação do personagem principal com sua família, focando mais na filha mais nova, Murphy. Não demora muito para a tripulação partir para outra galáxia, e a partir daí o roteiro varia entre cenas do espaço e na Terra. Os longos diálogos, muito vistos por alguns como um "problema na dinamização da obra", para mim, são os maiores tesouros da decorrencia! Os momentos mais repletos de reflexões aprofundadas, captando diversas temáticas (e por isso é bacana: você pode ir pegando variadas vertentes para discutir e pensar sobre em apenas uma sequência de falas) e do que nos leva a grandiosos entendimentos conectados na trama, estão neles.

Outros críticos falaram mais da questão emocional dos personagens, que, no geral, não ficou muito boa. Nesse ponto, tenho que concordar. Tirando algumas exceções (a atuação de Matthew McConaughey foi absolutamente sensacional nesse aspecto, principalmente no que diz respeito à relação do seu personagem com a filha Murph), os personagens, em geral, não expressaram muito bem suas emoções. Acredito que o problema maior foi que os personagens mais secundários foram deixados "para escanteio", não interagindo muito bem com os principais e nem com a história, mas isso não afasta as lições e as imensas indagações que o filme nos impulsiona a fazer.

Interestelar (Interstellar, 2015) é do tipo de longa que vai fazer você terminar sem acabar, incitando a sua busca para pesquisas que ajudem a entender melhor sobre as tantas ligações físicas abordadas e o quanto próximo da nossa realidade atual elas estão. Estou louca para rever a obra e mergulhar mais nesses quesitos científicos que acabam tão conectados aos nossos sentimentos, lembrando que o lado racional respira o emocional (afinal, se assim não fosse, não teríamos as ciências sociais e tudo seria tão positivista a ponto de sufocar até nossa evolução visando pontos mais focalizados em exatas propriamente ditas). A questão do espaço-tempo e da relatividade, com suas possíveis consequências, ficam borbulhando nas mentes dos telespectadores com conexões sobre os desastres e alcances atuais, nos tornando detetives que criem suas próprias vertentes e demais indagações e pesquisas de outros caminhos, ainda que certas teorias abordadas possam ser ainda consideradas como impossíveis. Uma obra para testar e ampliar seu autoconhecimento, aguçar sua criatividade, seu senso de argumentação e indagação, sua fé, suas teses, seus sensos de consequências, do realmente é liberdade (ter ao estar preso sentindo as asas e cativando o que as mantém) e noções de união entre razão e emoção, e seus impulsos de releituras humanas.

  • Intocáveis

"As pessoas ligam para a arte, porque é uma das únicas coisas que alguém deixa de legado maior", é a expressão, são as mensagens, reflexões, maior retrato de uma vida que pode servir de foto para tantas outras. É como esse tipo de reflexão vista em um dos diálogos do filme, que inicio as visões sobre Intocáveis, um longa francês de comédia dramática, escrito e realizado por Olivier Nakache e Éric Toledano, com François Cluzet e Omar Sy nos principais papéis. O filme é baseado no fato real da relação de um multimilionário tetraplégico e do seu peculiar auxiliar de enfermagem, baseado no livro autobiográfico de Philippe Pozzo di Borgo, Le Second souffle. Foi o filme mais visto na França em 2011 e é o mais rentável filme francês da história. O dinheiro arrecadado com a venda dos direitos de autor da adaptação do livro ao cinema, cerca de US$ 650 mil, foi doado a uma associação de ajuda a deficientes físicos.

Diversas pessoas pararam por aí e já criticaram o filme em sua origem. A simples presença de estereótipos, evidentes e voluntários no caso, foi percebida como sinônimo de baixa qualidade. Porém, o mais interessante da obra é o pensar sobre como foram usados os estereótipos, já que o que poderia constituir apenas mais um desenvolvimento de clichês, desconstrói as ideias de base de tais rótulos.

Inicialmente, Intocáveis está interessado em mostrar como os dois protagonistas reconhecem muito bem seus grupos sociais, e estão cansados de serem inseridos neles, desejando serem vistos como além de suas classes, mas sendo captados pelos seus âmagos, como todos desejamos. Para o roteiro, interessam mais as semelhanças improváveis entre ambos (a paixão pela música, o respeito pela família, o prazer pelos esportes radicais, o desprezo pelas convenções) do que suas diferenças, nos trazendo lições maravilhosas em mensagens que nos deixam muito mais próximos uns dos outros e dão suportes para quebras de preconceitos. Grande parte do humor vem justamente das aproximações entre ambos e da permissão para aprender um com o outro.

Não significa que a produção seja tão subversiva, ou que ela rompa com todos os clichês. Ela apenas o utiliza como ponto de partida! Os dois homens são devidamente humanizados, e mantém seus tons politicamente incorretos do início ao fim, mas jamais de forma que firam a alheios que não tiveram escolhas, jamais de maneiras que quebrem seus princípios ou que tenham consequências negativas diante do resto da sociedade. As deficiências de cada um (social em um caso, física no outro) servem para torná-los semelhantes e complementares, principalmente por eles abrirem alas para isso, diferente do que vemos no cotidiano em tamanhas divisões intencionais. É fato que alguns detalhes cometidos incomodam, mas sendo possível observar com criticidade e cautela, os atos que firmam os bons caráteres de ambos, suprem e nos levam a enxergar as minúcias que podem ser vistos como erros, apenas como pontas que nos comprovam lições como as de que liberdade é sinônimo de respeitar. Nada disso diminui a emoção da obra, nada disso subtrai as mensagens de lealdade, amizade e maravilhosas fórmulas para quebras de prejulgamentos. Intocáveis consegue ser um drama vívido, que capta tons de comédia escrachada, mas perfeitamente equilibrada em seu discurso, capaz de agradar adultos e jovens, de direita ou esquerda, de qualquer etnia ou grupo social. Talvez por isso ele tenha conquistado um sucesso tão grande na França e no mundo.

A amizade dos personagens é cativante, belíssima e, cada um, particularmente, nos traz reflexões de vida a mais, exibindo o quão isso agregou em evoluções para o outro. É uma obra que ratifica que mais do que o conhecimento dado por uma instituição, vale o lado humano, a criatividade, o poder da imaginação e da força de vontade de fazer o bem. Nada supera a mente que permite ensinar, aprender e fazer diferente. É uma obra sobre ter fé no outro após observar algo de bom ponto mais interior, sobre olhar para o simples e enxergar um complexo solucionável, sobre olhar para alguém como se já fosse alguém de renome (porque é isso o que nos falta: lembrar que acima do que chamam de "conhecido" ou de qualquer palavra que "eleve" o tal "quem", vem o desconhecido talentoso, vem aquele que algo maior faz com o que tem, e não que algo maior tem. Temos a mania de falar "ah, mas desse aí nunca ouvi falar", mas antes de alguém ser ouvido, antes nunca havia sido, e alguém que o ouviu que começou a levar essa voz para os cantos, parecemos ignorar que qualquer reconhecimento começa por algum ato de fé que vai contra essa onda de reproduzir o que todos reproduzem, reproduzindo, invés, o que acredita ser bom), de sucesso desde já, sabendo enxergar o quanto aquela pessoa pode ir além e investindo nessa crença. Uma história sobre parar de definir uma pessoa pelo que pode ser visto como negativo externo, como "presente" (nem sempre bom) do meio em que nasceu ou deficiência, mas sim dando as bases sobre ela através do seu caráter, dos atos, da mente, dos talentos, dos pontos mais cheios de vida e que se sobressaem dos outros ângulos. Uma obra que vai fazer você querer viver e ter com quem compartilhar essas vivências. Que avançou em mim uma pontinha a mais de coragem de pular de paraquedas por aí. 

Precisamos de quem nos impulsiona, nos soma, nos enxerga pelo que podemos além, de quem nos dê mais coragem, de quem puxe nossa orelha sem medo, mas também saiba a relaxar; um pouco do que já citei nesse texto aqui e nesse texto aqui, são dois escritos que vi bastante implicitamente no filme e adorei ter essas vertentes deleitosas.

Lembrando que uma cinebiografia super inspiradora, assim como a de J. K. Rowling, é a Walt Antes de Mickey! Que falei recentemente um pouco sobre nesse vídeo aqui, e nos dá visões muito palpáveis sobre dicas de práticas diversas para tomar como cautelas em qualquer tipo de empreendimento.

E então, já viu algum desses filmes? O que acrescentaria nas reflexões sobre cada um? Qual dos que não viu mais chamou a sua atenção? Não deixe de emitir suas opiniões nos comentários!


  • Veja os comentários dos leitores (e respostas) desta postagem na versão antiga do blog clicando aqui.

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11 COMENTÁRIOS

  1. Van, eu tô com 'O impossível' na minha lista do Netflix, sou super curiosa pra assistir, todos elogiam! Mágica além das palavras, eu nunca consigo pegar do início, ainda quero ver tudo, é muito inspirador <3 Bj, Blog B de Bia

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    1. Bi, que alegria por ler essa suas palavras e saber dos seus desejos de navegar em histórias tão intensas e repletas de lições maravilhosas que pensam nas entrelinhas. "O Impossível" é sensacional! E, como falei, nos deixa com metáforas densas sobre a nossa sociedade e como temos a direcionado, são mensagens reflexivas que captam os âmbitos mais íntimos e as críticas para o mais coletivo. Espero demais que possa ver, se inspirar, e que a análise feita possa abrir alas para suas profundidades ao ver, viu? E Magia além das palavras é inspiração de vida pura! Como disse, não tem um roteiro para lá de sensacional, mas a história merece toda a nossa atenção e coração. Espero, da mesma forma, que o que foi citado sobre obra possa abrir espaço para mais intensidades suas ao analisar, viu? Um super beijo!

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  2. Oi Vanessa, tudo bom? O Impossível realmente é um filme muito forte. Acho incrível a maneira como o diretor conseguiu nos passar essa emoção. Intocáveis eu sempre quis assistir, mas filmes desse tipo me fazem chorar fácil! ): De qualquer forma, depois da sua lista com certeza esse e os outros filmes vão pro meu conceito tem-que-ver hahaha. Um beijo!
    https://rayssaferreiradotcom.wordpress.com/

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    1. Oi, Ray! Que alegria imensa por sentir suas afirmações! Espero demais que possa devorar as obras, já que são todas repletas de mensagens aprofundadas e de maneiras repletas de peculiaridades que se complementam de formas tão reflexivas de uma para outra. O Impossível nos deixa com as sensações à flor da pele, não é? É incrível mesmo! E o mais bacana são as mensagens que vão para muito além do ocorrido e das lições de amor, garra e família, captando grandes críticas sociais. Espero que tenha feito uma releitura muito bacana em mente e que possa ligar as teses de um filme para o outro, viu? Um super beijo!

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  3. Chorei demais nesse Interstelar, aquela parte que ele ta vendo o vídeo da filha dele rios de lágrimas hahahaha
    Dany Guimarães| Legalmeente Ruiva | Legenda da Trindade www.legalmeenteruiva.com

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    1. Os lados humanos entrelaçados em cada questão cientifica e de consequências na natureza (que muito são causadas por quesitos humanos em certas instâncias) são maravilhosos, não é, Dany? As lágrimas também surgiram em mim em diversas cenas. É uma obra repleta de reflexões, sensações, lições aprofundadas sobre âmagos que captam sentimentos e razões em conjunto, e de meios para que agucemos teses a mais sobre diversas temáticas. É uma delícia saber que pôde sentir a estória assim e navegar nas mensagens, viu? Espero que possa devorar os outros filmes também! Um super beijo!

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  4. Que layout novo mais lindo! Tomei um susto quando cheguei aqui e vi poucos comentarios, porque sempre ta cheio kkkkk mas aí eu vi la em cima que pode ver os antigos kkkkkkkk amei! E voce sempre nos trazendo as reflexoes que nunca nem imaginariamos, ne, brunt? Essas questoes das metaforas em O Impossivel nunca iria pensar. Ele foi o unico da lista que eu vi, inclusive. Vou rever pra pensar mais nessas lições que voce falou e vou ver os outros logo, aproveitar o feriadao kkkkk

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    1. Bru, que alegria imensa por saber que apreciou a nova roupa do nosso cantinho que continua com a mesma essência! Obrigada por essa energia e carinho incríveis! E os comentários antigos, em diversas postagens, podem ser vistos através dos links indicados ao final de cada uma, viu? Com o novo layout, foi necessário fazer isso em certos posts, mas está tudo salvo e sem problemas! E que delícia por saber que a análise pôde levar suas reflexões para mais âmbitos. Espero que possa mergulhar nelas em releituras incríveis e que as demais análises possam servir de portas para demais visões ao ver as outras obras, viu? Um super beijo!

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  5. Acho que desses só assisti dois, que foi O impossível e Intocáveis. Interstelar tentei, mas juro que foi um daqueles que você não gosta do começo e já não tem paciência de terminar o resto e dorme, mas quem sabe não assista depois! Adorei seu blog, já estou até seguindo, amo blogs com mt dicas de filmes e livros. Sucesso linda, beijão <3
    ps: vim do bgs haha

    www.santtavaidade.com

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